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A importância dada, pelo Homem, à conservação da natureza não foi, desde sempre, uma realidade constante. Esta preocupação surgiu das incessantes questões colocadas pelo Homem «acerca das suas relações com a Terra» Actualmente, em grande parte do mundo, o principal instrumento para a conservação da biodiversidade é o estabelecimento de áreas protegidas. Com a criação de áreas protegidas advêm uma série de mudanças de atitudes do Homem num determinado espaço; nestas acções prevê-se o condicionamento de comportamentos humanos que colocam em causa a sustentabilidade de ecossistemas.
 
A Serra da Gardunha é uma ramificação da Serra da Estrela que se localiza na zona ocidental do sistema central ibérico, fazendo a divisória entre a campina de Castelo Branco e a Cova da Beira. Pertence ao conjunto montanhoso denominado por Cordilheira Central, estende-se no sentido Nordeste/Sudoeste, numa extensão de 20 quilómetros por cerca de 10 quilómetros de largura e com uma altitude máxima de 1227 metros, na Penha, de onde, segundo o poeta José Régio, se avistam "terras de Espanha e areias de Portugal".
 
A Serra da Gardunha apesar da sua pequena área geográfica apresenta uma diversidade biológica elevada, reunindo elementos característicos do norte, centro e sul do país que conferem particularidades únicas a este maciço montanhoso da Beira Interior. Na Gardunha, também conhecida por Guardunha (palavra árabe que significa "refúgio"), o granito e xisto marcam presença. A água é outra constante. A diversidade paisagística e biológica que esta serra conserva está intimamente ligada à geomorfologia e petrologia da zona: as faixas de metamorfismo (gneiss) do complexo do xisto das beiras condicionaram as espécies (endemismos) e o uso do solo por parte do homem, estabelecendo uma perfeita harmonia.
 
A Serra da Gardunha faz parte da lista nacional de SIC (Sítios de Importância Comunitária) da Rede Natura 2000, sendo considerada uma Zona Especial de Conservação (ZEC) no âmbito dadirectiva habitats (92/43/CEE), pois tem espécies de fauna e flora e comunidades vegetais de elevada importância para a conservação. Do ponto de vista da Geomorfologia, a área de maior interesse, na Serra da Gardunha, situa-se próximo de Castelo Velho a uma cota entre 1006 e 1029m, onde se observam, entre outros, cinco afloramentos graníticos considerados de elevado valor geológico. De entre estes afloramentos, podemos observar o bloco de “Fracturação Poligonal”, o “Bloco Fendido”, os “Blocos Residuais” e alguns “Tor”. Estes elementos, monumentos geológicos, inserem-se no Geopark Naturtejo – «uma área com expressão territorial e limites bem definidos, que contem um número significativo de sítios de interesse geológico com particular importância, raridade ou relevância cénica/estética, com muito interesse histórico-cultural e riqueza em biodiversidade. Estes sítios que reportam a memória da Terra fazem parte de um conceito integrado de protecção, educação e desenvolvimento sustentável.» (Sítio do Geopark Naturtejo, 2009-03-15).
 
Toda esta diversidade constitui um património natural riquíssimo ao qual está associado um valor inestimável representativo de uma herança e identidade que temos de gerir e preservar meticulosamente de modo a poder transmiti-la às gerações futuras. Durante a Idade Média, os eco-sistemas serranos eram dominados por uma densa e variada vegetação de espécies caducifólias (carvalhos e castanheiros) de que já só resta a memória e a toponímia. Esse manto verde espontâneo foi modificado com a introdução de novas espécies.
 
Na paisagem pré-romana destacavam-se então os povoados com as suas cinturas amuralhadas onde viviam populações sustentadas numa economia de base essencialmente de base agropastoril. Estes aglomerados vivenciais utilizavam a altitude como forma de afirmação de poder e de controlo das vias de comunicação que sulcavam a floresta primitiva. Estas vias tiveram a sua origem na necessidade de conduzir, sazonalmente, os gados da montanha para os relevos aplanados do sul.Um segundo momento antrópico desenvolveu-se durante o largo processo romanizador, com a instalação de pequenos casais e granjas de vocação agrícola. Os solos foram intensamente cultivados e largas zonas da floresta primitiva terão sido destruídas através de queimadas. Este período de intensa construção paisagística terá começado a desvanecer-se a partir do século VIII D.C.. As convulsões políticas, sociais e demográficas e as novas centralidades dos poderes transformaram a Gardunha post–romana num espaço repulsivo e periférico. A floresta primitiva avançou, sendo apenas cruzada pelos rebanhos transumantes e pelos movimentos de guerreiros cristãos e islâmicos.
 
Na Serra de Ocaia como então se designava a Serra, os tempos post-Reconquista (finais do século XII até ao século XV) caracterizaram-se por uma fase de antropização complexa e por uma intensa e progressiva transformação do habitat natural. Durante a segunda metade do século XIX e todo o século XX, assistiu-se a uma alteração dos conceitos económicos e dos quadros vivenciais. O processo migratório, o abandono dos campos, a introdução de novas culturas e espécies a multiplicação de redes de caminhos, a destruição dos topos geológicos e as sucessivas vagas de incêndios criaram uma nova paisagem da Gardunha. O complexo Xisto-Grauváquico, corresponde a um conjunto de rochas metamórficas de origem sedimentar muito uniforme em todo o País, sendo constituído essencialmente por xistos (material mais argiloso) e grauvaques (material mais arenoso). Este complexo Xisto-Grauváquico, localizase essencialmente na zona do Souto da Casa, Castelejo e São Vicente da Beira. Os granitos hercínicos, mais conhecidos por Granitos das Beiras, são as rochas mais largamente representadas na Cova da Beira. O afloramento que abrange o Fundão, Alcaria, e a vertente norte da Gardunha é constituído por um granito de grão médio, algumas vezes fino, biotítico (granodiorito). Na superfície encontram-se muito alterados, apresentando uma tonalidade amarelada e desagrega-se facilmente.
 
Relativamente à geomorfologia da Serra da Gardunha, há a destacar algumas evidências das glaciações. Apesar da Gardunha não ter sido sujeita à cobertura dos glaciares, como foi o caso da Serra da Estrela, esta esteve sob a influência do frio intenso (periglaciarismo) em que o solo congelou durante muito tempo (permafrost). As variações de temperatura associadas à formação de gelo, expandiram e contraíram as rochas originando a sua fragmentação em blocos angulosos. Este fenómeno é visível devido aos inúmeros depósitos de vertente (cascalheiras de xistos e grauvaques) existentes na encosta norte da Gardunha.
 
www.cm-castelobranco.pt/pdf/.../caraterizacao_pp_serra_gardunha.pdf

Serra da Gardunha

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